quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Eleições 2018: Como se joga o jogo democrático?


A última pesquisa publicada pelo comando midiático do golpe de 2016 pode nos ajudar a realizar algumas leituras. A grande preocupação dos golpistas, ou do núcleo duro do golpe, é tornar o processo eleitoral um mecanismo que mantenha o sistema político brasileiro instável. A questão é complexa, mas escavando podemos chegar a diversas interpretações, vejamos algumas teses: todos sabemos, pelo menos os mais atentos as informações e ao processo, que a participação do Lula nas eleições desmantelaria, desestabilizaria, os arranjos das elites no poder do Estado para continuarem dando as cartas nos destinos do país, assim, só havia uma forma de tirá-lo do processo, prendê-lo. Isso daria uma aparência de legalidade, colocaria os setores moralistas (ou hipócritas) da sociedade para serem a correia de transmissão da propaganda moralista.
Vamos primeiramente a pesquisa antes de desenvolvermos melhor o raciocínio. A pesquisa do dia 05/09/18, fora a pesquisa polêmica encomendada pela Rede Globo e o Jornal O Estado de São Paulo, portanto considero não ser fidedigna os resultados. Mas ela é importante porque deixa o rabo de fora do núcleo do golpe. Lembremos que a não publicação imediata da pesquisa foi uma ação conjunta Rede Globo e a Justiça, novamente para dar aquele ar de legalidade, para impedir que fosse divulgada a pesquisa com a presença de Lula na planilha. Ora, mas por que o judiciário se prestaria a este serviço sujo? Sabemos que já fez pior. A questão é que o registro no TRE é de conhecimento de todos, tem um prazo para ser publicada, bingo!
A “justiça” seguiu as orientações e determinou que fosse retirado o resultado com Lula. Aonde está a cereja do bolo Na movimentação dos resultados que conduz o processo eleitoral impreterivelmente para o segundo turno, com Lula o risco do povo bater o martelo no primeiro turno é iminente. Por isso vamos ler apenas o segundo turno, justamente porque sabemos que Bolsonaro, apesar ficar em primeiro na pesquisa, não ganha no segundo turno, a última coisa que as elites no poder querem é um lunático dirigindo os seus “negócios”, e a esquerda não quer que se repitam as tragédias brasileiras, com o Regime Militar, e as do mundo, com o nazismo. Voltemos ao foco: nos cenários da pesquisa, montada, para o segundo turno o que é importante é que Bolsonaro perde para Marina e Ciro; empata tecnicamente com Haddad, não precisa ir mais além, o núcleo do golpe desistiu de abanar os seus principais serviçais na política e vão investir numa nova “direita”, ou uma esquerda fanfarrona representa por Marina, haja vista, que o PT socialdemocrata se radicalizou, aprendeu a lição: não se pode confiar na burguesia conservadora brasileira. Ou seja, a próxima pesquisa pode até mostrar a realidade da corrida eleitoral, mas essa pesquisa especifica teve tempo de ser montada como desejam agora que o processo siga, com menos prejuízos aos interesses golpistas. A pergunta que alguns poderia fazer: e o Alckmim, por que não está sendo colocado, se aparece vencendo Bolsonaro no segundo turno? Porque ele não vai para o segundo turno, penso que nem a máquina mais poderosa vai tirá-lo dos 5 a 9%. Mas, temos visto que o núcleo golpista não tem medo de ser visto nu e enlameado de excremento.
Lembrem-se, novamente, não esqueçamos desta pesquisa, ela será lembrada como o momento de flexão do golpe, permitir que os empoados como Marina possam chegar ao governo. Podemos ir mais além, tentando escavar mais fundo. A quem interessa a instabilidade política? Por que esse esforço incomum para deixar Lula encarcerado? Estas são variáveis importantes para tentarmos saber o que vem depois das eleições, ou seja, que pode permitir compreendermos a coerência engendrada.
Lula é o ponto de desequilibrou no processo, isto é importante que esteja claro, é um fato inconteste, os operadores do golpe suam muito para pensar e executar manobras jurídicas, ambivalências de interpretação, espetáculo midiático, sombreiam a campanha de Lula, Haddad e Manuela; montam “palanques” para os concorrentes que enfrantam PT, PCdoB; o aparato de execuções mirabolantes não tem “fim” e com pouco sucesso, Lula continua intacto e crescendo, se não for candidato, saíra da cadeia mais forte do que entrou. De certo modo é uma lei “determinística” que diz: quando o povo está convencido que foi enganado, a tendência é ir se somando mais desalentados.
Para o núcleo do Golpe, e os Operadores, estas eleições têm perfil estratégico, é essa a leitura funda que faço da montagem da pesquisa, para manter a política iniciada por Temer é necessário que se tenha um futuro governo fraco, que dependa o máximo de arranjos de alianças para poder ter governabilidade. Um governo forte de esquerda será um duro e estratégico golpe nas elites econômicas. Lula já entraria sendo líder de um governo forte, que se soldou na crueldade do inimigo; inimigo que ofendeu com violência os direitos dos trabalhadores, dos mais pobres e espancou a Constituição Brasileira.
Na falta de Lula a montagem da pesquisa da Rede Globo/Estado de São Paulo, é uma flexão do golpe porque sentiram que não podem ter tudo, e sabem que, se elegerem Bolsonaro, novamente serão responsabilizados por mais um erro histórico em seus currículos. As elites correrão este risco porque vale a máxima para eles, que parece ser cômica: “vão-se os dedos e ficam os anéis”.
As eleições são parte do jogo “democrático”, mas só é democrático quando se joga o jogo. Em um jogo coletivo todos seguem regras, entretanto a priori não se tem como estabelecer compromissos éticos para que o jogo seja jogado, todos participantes devem desconfiar do adversário e confiar nas regras. No jogo deve existir um ou mais mediadores para ajuizar, assim, quando alguma anormalidade passar do crivo dos participantes um ou mais juízes corrigem o ato falho, para não deixar que o resultado da peleja seja maculado. Assim funciona um Estado Democrática estável; assim não funciona o Estado brasileiro. Os membros do Executivo, Legislativo e Judiciário, que deveriam ser os mediadores do processo democrático, não o são, estão comprometidos com as elites econômicas, sujam o jogo, manobram as jogadas a favorecer um lado dos jogadores.
Lula como pessoa está sendo afetado pelo jogo sujo, porém, não se enganem, ele é apenas o estrategista de um lado do jogo, representa certos anseios de parcela significativa da sociedade, pelas pesquisas de 37 a 45% da população. Mas, diriam alguns, ele está preso, “sujou” o jogo; não, para “sujar” o jogo o que pesa é a manobra que passa por cima das regras que desobedecem às leis que regem a ação dos indivíduos. Lula por ser um grande estrategista teria que ser anulado, no jogo sujo, o problema foi que os golpistas mexeram as peças erradas, prenderam-no sem provas concreta, como exige a regra do jogo. Ao ser percebida a manobra acenderam a vontade de parte significativa dos brasileiros. De todo modo, os golpistas e seus ideólogos sabiam que a liderança não está com a esquerda, está com Lula. Preso não poderia ter contado com o povo, Lula elegeu um emissário; os golpistas diminuíram o contato do emissário para ele não emitir as mensagens; a esquerda que está com Lula manteve a candidatura de Lula. Então por que não mudar o líder? Porque esta esquerda percebeu que o jogo era isolar Lula, afasta-lo do povo para os votos se diluírem nas candidaturas. Alguns candidatos já estavam de “boca escancarada” esperando cair em seus “colos” a possiblidade de “engolirem” a preferência do eleitorado desgarrado.
O jogo não foi jogado, o adversário impôs um jogo sujo, muitos caminhos poderiam abrir e outros fechavam o jogo, mas apenas uma movimentação permitiria encurralar o adversário, que já estava com muitas vantagens. Da cadeia, que lhe foi imposta injustamente, Lula se agigantou, cerrou fileira aos homens e mulheres que foram encarcerados como Mandela e muitos outros; reuniu seus emissários, Haddad e Manuela, fizeram uma das melhores jogadas, aquela que não passava pela mente de quase nem um de nós e jogaram o jogo. Em desvantagens, lançam três candidaturas. Para que isso, deveria logo largar a liderança, passar o bastão para outro? Muito fácil, não seria a melhor jogada, isso provocaria uma debandada de parte do eleitorado, é preciso manter-se unidos na dificuldade e impedir que fossemos derrotados antes que a corrida eleitoral chegasse na largada. O impacto da decisão fora acima do esperado, colocou os adversários na parede e permitiu ganhar tempo, além do que os eleitores transformaram a decisão em uma espetacular peça de propaganda nas redes sociais. De outro lado as grandes emissoras fecham as portas, todas as manifestações da campanha de Haddad e Manuela estão vedadas.
A luta jurídica são lances de ficar com pena aos adversários, rasgam e Constituição, as leis penais; o argumento é que Lula foi condenado na 2ª instancia, porém, centenas de candidatos condenados na 2ª e última instância estão livres e fazendo campanha, é o jogo sujo que não comporta em uma democracia estável.
Os adversários se assustaram com o lance jurídico que os emparedou, depois que os golpistas do núcleo do judiciário (STF) foram notificados pela ONU, deveriam ceder o direito a Lula ser candidato e participar da campanha, jogo jogado. A resposta foi atarantada, alguns juízes transformaram os seus trabalhos publicados em livros mortos, não valem mais para ministrarem aulas e orientarem alunos de direito; outros, como o Ministro Fachin, toda vez que toma uma decisão, jogando sujo, faz uma cara de que tem alguém da família em cativeiro.
O jogo jogado, o jogo democrático, exige astúcia e não força; inteligência e não manobras sujas; confronto de ideias e não ausência destas. O que a mídia golpista, com a Globo ao “timão”, tem a oferecer no jogo democrático? Não se exige que não tenham lado; acho um absurdo querer que milionários da comunicação que pagam altos salários, para alguns poucos, a seus empregados, estejam ao lado dos despossuídos, da esquerda, dos liberais progressistas, dos trabalhadores homens e mulheres. Porém, deveriam ter como perspectiva fortalecer a democracia e os processos democráticos, ao contrário, estão ajudando a construir uma “democracia” cambaleante, dependente, enfraquecida.
A Globo, em uma jogada de desespero, segura a pesquisa paga por ela; tem a cobertura do judiciário. É só nos atentarmos para as datas: da pesquisa entregue ao cliente, de medida do judiciário, impedindo a sua publicação e do anuncio da Rede Globo, precisaram de tempo para maquiar a pesquisa, que sem a presença de Lula, teriam que redimensionar os votos dado a Lula. Como fazer isso em uma pesquisa estatística com medidas em porcentagem direcionadas a cada candidato?
Oportunidade dada, oportunidade transformada em jogada suja. Mas a oportunidade faz você se abaixar mais do que o necessário para apanhá-la, então, o rabo aparece. A estratégia da Central do Golpe jogou. Porém, mostrou que a grande estratégia é o isolamento do Lula, a sua desmoralização pública. Este jogo sujo deu certo por algum tempo, mas me parece que a maioria do povo percebeu mais rápido do que os estrategistas políticos, mantiveram Lula em primeiro lugar em todas as pesquisas, não deu certo o isolamento, A Central do Golpe jogou e mostrou que não quer que as eleições de 2018 seja resolvida no primeiro turno. É uma jogada para ganhar tempo. Mas não é uma única jogada, tem que continuar a manter Lula fora do páreo; inflar Bolsonaro de forma controlada, esperando que Alckmin cresça, se não der vão de Marina ou Ciro.
Todos nós podemos acrescentar várias jogadas neste jogo que e jogado de um lado, mas do outro são lances decepcionantes, lamentáveis que denigrem a imagem do Brasil pelo mundo e deixam a todos no meio de incertezas. O jogo democrático está em sérios riscos.

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