quarta-feira, 13 de abril de 2011

INSURREIÇÕES NO MUNDO ÁRABE - POR RAIMUNDO JUNIOR (TOQUINHO)

Por ser assunto de importância no campo da política internacional publico na íntegra a colaboração do estimado (Toquinho) conhecido em nosso meio (Conceição do Araguaia) como "Mundico". Sociologo e Bibliotecário, Servidor Público Federal (IFPA).

INSURREIÇÕES NO MUNDO ÁRABE

O mundo atual vive uma ebulição política, por conta dos processos insurrecionais vividos pelos países árabes, que tem por motivação o fundamentalismo religioso e a questão da política imperialista na região, que remonta o expansionismo territorial de Israel expresso na guerra dos seis dias, que ocupou parte do território da síria, Egito e Jordânia.
A população dos países muçulmanos sempre condenou as iniciativas de aproximação com o ocidente, e os acordos e alianças espúrias com as potencias capitalistas e seu aliado na região, Israel. Senão vejamos o caso emblemático do Egito, que após firmar a paz em separado com Israel, através do acordo de Campi Davi (1979) assinado por Anuar El-Sadat, reconhecendo o Estado sionista e enfraquecendo e isolando a unidade árabe na sua luta para recuperar os territórios ocupados, gerou um descontentamento generalizado no mundo árabe e um sentimento de revolta, que culminou com o assassinato de El-Sadat por fundamentalistas religiosos. O seu sucessor Hosni Mubarak continuou com a mesma política, sendo aliado de primeira hora do imperialismo, nas guerras do Golfo e no massacre ao povo palestino. E por conta disso, Mubarak veio a sofrer um atentado em 2006, que quase o vitimou de morte. Até que por fim, foi apeado do poder por essa recente onda revolucionária.
O Egito, por sua importância geopolítica, por ser um Estado fronteiriço à Israel e ser o mais forte dos países árabes, a política imperialista foi operada através de uma intervenção menos militar, e mais diplomática e de logística aos grupos opositores do regime, para no fim fazer um arranjo político, trocando Mubarak por uma junta militar, sem realmente mudar nada. Afinal, os EUA jamais irão aceitar que esse país vizinho à Israel, e o segundo mais importante aliado do imperialismo ianque na região caia nas mãos de grupos fundamentalistas radicais.
Não menos diferente, na Líbia de Muammar Kadafi, o regime socialista instalado tinha também o viés nacionalista, era próximo da extinta URSS, e apoiava a OLP e a causa Palestina contra o Estado de Israel, sendo por isso, vítima de um embargo econômico, na década de 80, sob acusação de apóio a grupos terroristas. Porém, a capitulação de Kadafi deu-se a partir da década de 90, quando o governo realizou movimentos de aproximação com o ocidente, através da abertura da economia ao capital estrangeiro, da privatização de setores estratégicos e da ruptura diplomática com o Irã, por este apoiar grupos radicais. Isso também gerou indignação e revolta na população de maioria muçulmana, que culminou com uma tentativa de assassinato à Kadafi, em 1998, cuja autoria foi reivindicada pelo grupo extremista “Movimento dos mártires Islâmicos”. E agora, depois de tanta traição à luta do povo árabe, Kadafi se segura para não ser apeado do poder por grupos opositores ao regime.
Em termos político-militar, a coalizão imperialista faz uma intervenção armada “cirúrgica” para derrubar o ditador Kadafi do poder, de olho nas reservas inexploradas de petróleo, de um lado, e de outro lado, para evitar que o poder caia nas mãos de grupos fundamentalistas hostis e avessos ao imperialismo ianque. Em meio às pressões internas e externas, o ditador parece se sustentar no poder, por aquilo que Nietzche costuma chamar de “desejo de poder”, que acompanha toda e qualquer criatura viva.
História parecida tem a Síria governada pelo partido Baath desde 1963. O regime dos al-Assad também tem um caráter nacionalista e socialista, era próximo da extinta URSS e sempre foi partidário da causa palestina contra Israel. Porém, capitulou ante aos interesses do imperialismo americano, se opondo ao Iraque na primeira guerra do Golfo. E, politicamente falando, os EUA têm grande interesse numa insurreição dirigida nesse país, por fazer fronteira e ser extremamente hostil ao vizinho Israel e aos interesses imperialistas.
Em síntese, a religião que sempre foi um fermento desses conflitos no oriente médio, também sempre foi usada como pretexto para a edição dessas novas cruzadas, por parte das potências capitalistas, representando o mundo ocidental cristão, de um lado, e de outro lado, por parte dos países muçulmanos, para a edição da Jiha islâmica ou guerra santa, que os grupos radicais Xiitas usam para combater o ocidente impuro e infiel e seu aliado, Israel. Na verdade, o componente religioso esconde as disputas territoriais, os interesses imperialistas na região, a luta pela autonomia palestina nos territórios ocupados, a construção e o reconhecimento de um Estado palestino, etc. É como dizia Voltaire, “se Deus não existisse, teria que ser inventado”, porque sempre interessa a um lado e outro, passar para a sua opinião pública a idéia de que esses conflitos não passam de um duelo do bem contra o eixo do mal.
Portanto, o fato é que, enquanto persistir a busca alucinada por reservas de petróleo e de mercado por parte dos países imperialistas, os conflitos não vão cessar, e vamos continuar assistindo a edição de novas cruzadas, de um lado. E de outro lado, enquanto Israel não devolver os territórios ocupados (colinas Golã, Cisjordania e Gaza), parar com a política segregacionista e de massacre aos palestinos e permitir a criação de um Estado laico, democrático e independente na palestina, o oriente médio vai continuar sendo um barril de pólvora. E quanto a nós, só cabe em respeito à autodeterminação dos povos, a solidariedade e o apoio à luta do povo árabe contra a opressão imperialista dos EUA e seu aliado na região, Israel.