sábado, 12 de novembro de 2011

O TRABALHO E SUAS METAMORFOSES

Amigo de longas datas, KLEINER nos presenteia com inteligente artigo sobre a metamoforse do trabalho. Conceito construido por Mezàros, recoloca o marxismo em foco, como teoria e como prática social.

           Desde que o homem surgiu enquanto tal, o trabalho passou a fazer parte do seu cotidiano como fator essencial para organização da sociedade e na produção dos bens e serviços necessários a sua existência. O trabalho é uma condição específica do homem e está associado a certo nível de desenvolvimento dos instrumentos de trabalho (grau de aperfeiçoamento das forças produtivas) e da divisão da atividade produtiva entre os diversos membros de um agrupamento social. Assim, o trabalho assumiu formas particulares nos diversos modos de produção que se consolidaram ao longo da história humana Nas  comunidades primitivas tinha caráter solidário, coletivo, ao passo que nas sociedades de classe (escravista,feudal e capitalista) tornou-se alienado, opressor e coercitivo para milhares de seres humanos.

           Na Roma antiga e depois durante o todo o Feudalismo, o trabalho e o trabalhador eram visto como algo menor, longe do ideal de homem a ser perseguido naquela época. Com a implosão do antigo regime e com advento do capitalismo a visão de mundo individualista subjacente ao liberalismo clássico, tornou-se a ideologia dominante desse novo sistema econômico, que estruturou seu credo político e psicológico em quatro pressupostos básicos da natureza humana. Os ideólogos do liberalismo sustentavam que todo homem é egoísta, frio, calculista e essencialmente atomista. Figura como Hobbes, com sua tese sobre o egoísmo humano e posteriormente Jeremy Bentham com seu hedonismo psicológico, afirmando que “todas as ações são motivadas pelo desejo de obter o prazer e evitar a dor “e ainda, pensadores eminentes desse período como John Locke, Bernard Mandeville, David Hartley, Abraham Tucker e Adam Smith, atribuíram ao intelecto humano um papel extremamente significativo.

          Mesmo que todas as motivações tenham origem na dor, as decisões que os indivíduos tomam quanto a que prazeres ou dores buscar ou evitar estribam-se numa avaliação fria e racional das situações. Para eles, é a razão quem dita à necessidade de avaliar todas as alternativas que determinada situação coloca para que a escolha recaia sobre a quem oferece o Máximo de prazer e o mínimo de dor. Bem, aí está à vertente calculista e intelectual da teoria psicológica do liberalismo clássico que confere ênfase a avaliação racional dos prazeres e dores e, em contrapartida, o menosprezo pelo capricho, o instinto, o hábito o costume e as convenções.

          A visão de que os indivíduos são essencialmente inertes resulta da noção de que a busca do prazer e a rejeição a dor constituem os únicos estímulos do homem. Ou seja, se os homens não encontrassem atividades que lhes proporcionassem prazeres ou dor ficariam reduzidos à inércia, a imobilidade e a indolência. A conseqüência prática dessa doutrina foi à crença largamente difundida na época, de que os trabalhadores eram incuravelmente preguiçosos. E que somente uma grande recompensa, ou o pavor da fome e de outras privações os obrigaria trabalhar.

        Essa visão preconceituosa sempre norteou o pensamento das elites nas sociedades de classe, mesmo com a evolução dos modos de produção e das transformações ocorridas no mundo do trabalho, do Escravagismo ao capitalismo com sua ideologia liberal, a classe trabalhadora, “ou classe que vive do trabalho”, ainda continua distante do lugar que merecidamente lhe cabe nesta sociedade. Embora, tenha conquistado a duras penas uma certa qualidade de vida nos países capitalistas centrais, uma quantidades enormes de trabalhadores na periferia do sistema sobrevivem à margem de seus direitos básicos, sem escola, sem saúde, sem alimentação adequada, sem cidadania sem  futuro.

       Com o advento da globalização a situação se complicou ainda mais, pois o poder de barganha dos trabalhadores diminuiu consideravelmente com o enfraquecimento dos sindicatos, que agora lutam para manter o emprego e não mais para transformar a sociedade. A ameaça constante do desemprego gerado pela automação e pela reorganização da produção em escala planetária abalou de forma colossal o cotidiano dos trabalhadores em todo mundo. Mesmo nos países centrais,aceita-se a redução de salário com vista à manutenção do emprego. Em alguns países europeus essa tática não funcionou, pois trouxe prejuízos para a qualidade dos produtos que foram considerados inferiores aqueles produzidos por trabalhadores que recebiam salários integrais.

      E como se não bastasse, nos países em que se adotou o modelo de organização da produção e do trabalho conhecido como Toyotismo, a situação é muito pior. Aqui o trabalho alcança ritmos de pressão e desgaste físico sem precedente em toda a história do trabalho assalariado. Sabe-se que a exploração máxima do trabalho é marca registrada do capitalismo no aprofundamento de suas relações fundamentais, porém a espoliação do trabalhador no sistema japonês não tem comparação na historia. As características principais desse sistema são: “autonomação” gerenciamento JIT, trabalho em equipe, management by stress, flexibilidade da força de trabalho, subcontratação  e gerenciamento participativo.

       “Autonomação” é uma palavra que combina os conceitos de autônomo e automação. Não significa apenas, funcionamento automático, mas parada em caso de defeitos. Essa técnica não foi introduzida na forma com se usava na industria têxtil, na qual as máquinas tinham o controle autônomo dos defeitos, o qual garante o funcionamento e parada automática no caso de defeito na operação de fabricação e permite a máquina funcionar só sem interrupção e sem supervisores. O JIT ou O just- in- time é uma forma de gerenciar  a produção bem diferente da utilizada pelos princípios fordistas,os quais se sustentam num ordenamento que se inicia com a produção em massa, deixando para pensar depois na distribuição na venda . Com o JIT, a produção é acionada pela demanda que,  (venda) que, através dos comandos sucessivos, disponibiliza componentes no lugar, hora e quantidade necessários à fabricação das unidades desejadas, vendidas antecipadamente. Isso livra a empresa da preocupação de trabalhar com estoque, fazendo com que haja uma perfeita sintonia entre a estratégia de produção e a estratégia de mercado. Os efeitos dessa racionalização sobre o trabalho são brutais, pois permitem o aproveitamento completo da jornada, diminuindo todos os mínimos espaços de tempo e movimento que possivelmente a linha fordistas tenha deixado escapar.

     Juntando todas essas características, temos aí a expressão: management by stress  que significa direção da produção por estresse. Creio que somente esta expressão sintetiza bem

o que é viver sob esta forma de organização da produção para milhões de trabalhadores. E assim, diante de condições tão adversas sem nenhuma alternativa concreta ao modo de produção vigente, chegamos a mais um 1° de maio, dia em que sobram motivos para refletir e faltam razões para comemorar. Contudo, se pensarmos que todos os modelos de organização das sociedades foram construções sociais, ainda podemos ter esperança, pois tudo que foi socialmente construído, também pode ser desconstruído e isto a história já provou ser verdade.            

             

                                                     KLEINER JOSÉ FRUTUOSO MICHILES.

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