Desde que o homem surgiu enquanto
tal, o trabalho passou a fazer parte do seu cotidiano como fator essencial para
organização da sociedade e na produção dos bens e serviços necessários a sua
existência. O trabalho é uma condição específica do homem e está associado a
certo nível de desenvolvimento dos instrumentos de trabalho (grau de
aperfeiçoamento das forças produtivas) e da divisão da atividade produtiva
entre os diversos membros de um agrupamento social. Assim, o trabalho assumiu
formas particulares nos diversos modos de produção que se consolidaram ao longo
da história humana Nas comunidades
primitivas tinha caráter solidário, coletivo, ao passo que nas sociedades de
classe (escravista,feudal e capitalista) tornou-se alienado, opressor e
coercitivo para milhares de seres humanos.
Na Roma antiga e depois durante o
todo o Feudalismo, o trabalho e o trabalhador eram visto como algo menor, longe
do ideal de homem a ser perseguido naquela época. Com a implosão do antigo
regime e com advento do capitalismo a visão de mundo individualista subjacente
ao liberalismo clássico, tornou-se a ideologia dominante desse novo sistema
econômico, que estruturou seu credo político e psicológico em quatro
pressupostos básicos da natureza humana. Os ideólogos do liberalismo
sustentavam que todo homem é egoísta, frio, calculista e essencialmente
atomista. Figura como Hobbes, com sua tese sobre o egoísmo humano e
posteriormente Jeremy Bentham com seu hedonismo psicológico, afirmando que
“todas as ações são motivadas pelo desejo de obter o prazer e evitar a dor “e
ainda, pensadores eminentes desse período como John Locke, Bernard Mandeville,
David Hartley, Abraham Tucker e Adam Smith, atribuíram ao intelecto humano um
papel extremamente significativo.
Mesmo que todas as motivações tenham
origem na dor, as decisões que os indivíduos tomam quanto a que prazeres ou
dores buscar ou evitar estribam-se numa avaliação fria e racional das situações.
Para eles, é a razão quem dita à necessidade de avaliar todas as alternativas
que determinada situação coloca para que a escolha recaia sobre a quem oferece
o Máximo de prazer e o mínimo de dor. Bem, aí está à vertente calculista e
intelectual da teoria psicológica do liberalismo clássico que confere ênfase a
avaliação racional dos prazeres e dores e, em contrapartida, o menosprezo pelo
capricho, o instinto, o hábito o costume e as convenções.
A visão de que os indivíduos são
essencialmente inertes resulta da noção de que a busca do prazer e a rejeição a
dor constituem os únicos estímulos do homem. Ou seja, se os homens não
encontrassem atividades que lhes proporcionassem prazeres ou dor ficariam
reduzidos à inércia, a imobilidade e a indolência. A conseqüência prática dessa
doutrina foi à crença largamente difundida na época, de que os trabalhadores
eram incuravelmente preguiçosos. E que somente uma grande recompensa, ou o
pavor da fome e de outras privações os obrigaria trabalhar.
Essa visão preconceituosa sempre norteou o pensamento das elites nas
sociedades de classe, mesmo com a evolução dos modos de produção e das
transformações ocorridas no mundo do trabalho, do Escravagismo ao capitalismo
com sua ideologia liberal, a classe trabalhadora, “ou classe que vive do
trabalho”, ainda continua distante do lugar que merecidamente lhe cabe nesta
sociedade. Embora, tenha conquistado a duras penas uma certa qualidade de vida
nos países capitalistas centrais, uma quantidades enormes de trabalhadores na
periferia do sistema sobrevivem à margem de seus direitos básicos, sem escola,
sem saúde, sem alimentação adequada, sem cidadania sem futuro.
Com o advento da globalização a situação se complicou ainda mais, pois o
poder de barganha dos trabalhadores diminuiu consideravelmente com o
enfraquecimento dos sindicatos, que agora lutam para manter o emprego e não
mais para transformar a sociedade. A ameaça constante do desemprego gerado pela
automação e pela reorganização da produção em escala planetária abalou de forma
colossal o cotidiano dos trabalhadores em todo mundo. Mesmo nos países
centrais,aceita-se a redução de salário com vista à manutenção do emprego. Em
alguns países europeus essa tática não funcionou, pois trouxe prejuízos para a
qualidade dos produtos que foram considerados inferiores aqueles produzidos por
trabalhadores que recebiam salários integrais.
E como se não bastasse, nos países em que se adotou o modelo de
organização da produção e do trabalho conhecido como Toyotismo, a situação é
muito pior. Aqui o trabalho alcança ritmos de pressão e desgaste físico sem
precedente em toda a história do trabalho assalariado. Sabe-se que a exploração
máxima do trabalho é marca registrada do capitalismo no aprofundamento de suas
relações fundamentais, porém a espoliação do trabalhador no sistema japonês não
tem comparação na historia. As características principais desse sistema são:
“autonomação” gerenciamento JIT, trabalho em equipe, management by stress,
flexibilidade da força de trabalho, subcontratação e gerenciamento participativo.
“Autonomação” é uma palavra que combina os conceitos de autônomo e
automação. Não significa apenas, funcionamento automático, mas parada em caso
de defeitos. Essa técnica não foi introduzida na forma com se usava na
industria têxtil, na qual as máquinas tinham o controle autônomo dos defeitos,
o qual garante o funcionamento e parada automática no caso de defeito na
operação de fabricação e permite a máquina funcionar só sem interrupção e sem
supervisores. O JIT ou O just- in- time é uma forma de gerenciar a produção bem diferente da utilizada pelos
princípios fordistas,os quais se sustentam num ordenamento que se inicia com a
produção em massa, deixando para pensar depois na distribuição na venda . Com o
JIT, a produção é acionada pela demanda que,
(venda) que, através dos comandos sucessivos, disponibiliza componentes
no lugar, hora e quantidade necessários à fabricação das unidades desejadas,
vendidas antecipadamente. Isso livra a empresa da preocupação de trabalhar com
estoque, fazendo com que haja uma perfeita sintonia entre a estratégia de
produção e a estratégia de mercado. Os efeitos dessa racionalização sobre o
trabalho são brutais, pois permitem o aproveitamento completo da jornada,
diminuindo todos os mínimos espaços de tempo e movimento que possivelmente a
linha fordistas tenha deixado escapar.
Juntando todas essas características, temos aí a expressão:
management by stress que significa
direção da produção por estresse. Creio que somente esta expressão sintetiza
bem
o que é viver sob esta forma de
organização da produção para milhões de trabalhadores. E assim, diante de
condições tão adversas sem nenhuma alternativa concreta ao modo de produção
vigente, chegamos a mais um 1° de maio, dia em que sobram motivos para refletir
e faltam razões para comemorar. Contudo, se pensarmos que todos os modelos de
organização das sociedades foram construções sociais, ainda podemos ter
esperança, pois tudo que foi socialmente construído, também pode ser desconstruído
e isto a história já provou ser verdade.
KLEINER JOSÉ FRUTUOSO MICHILES.
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