terça-feira, 11 de outubro de 2011

Quem parte, reparte.... A divisão o Pará e a “sabedoria” das elites econômicas do sul e suldeste paraense. - (primeira parte) Pelo Editor.

Quando eu era criança os membros de minha família faziam as refeições juntos. No café da manhã, na hora de comprar os pães, havia sempre uma discussão entre os meninos maiores que brigavam para comprar e servir os pães, eu não entendia muito bem o porquê. Eu achava bom não ter que ir mercearia. Já crescido, 11 ou 12 anos de idade, comecei a entender por que se brigava para comprar os pães, pois passei a fazer parte da briga. Quem comprava os pães repartia-o e ficava com a maior e a melhor parte, era um direito adquirido por ter se apresentado para comprá-los.

Minha avó, uma mulher de grande sabedoria, ao ver a briga pela maior parte do pão recitava um dito popular que expressa de forma esclarecedora á luta contra e a favor da divisão do estado do Pará. Recitava a minha avó: “quem parte reparte, fica com a melhor e maior parte. Quem parte e fica com a pior e a menor parte é burro e besta e não sabe da arte” (domínio popular).

A cobiça pelas riquezas do Pará (a melhor parte) historicamente sempre esteve na mira dos grandes projetos estrangeiros, dos empresários nacionais, do latifúndio improdutivo, madeireiros e de governantes que priorizam projeto de poder desvinculado de um projeto de nação e de governabilidade.

Quando escuto falar em divisão do estado do Pará, penso que se repete novamente o único interesse em rapinar as riquezas, e se refletirmos melhor, o Pará há muito tempo vem sendo dividido aos poucos. Se tivéssemos condições de medir teríamos um monte de Pará espalhado pelo mundo afora. Quanto será que existe de madeira legal e ilegal em outros países e outros estados em forma de moveis etc. Quanto de minérios já se tirou, deixando imensas crateras, dá para fazer um país só de ferro e manganês, outro de bauxita e ouro e mais outro de caulim e cobre. Isso porque não foi à população paraense que repartiu, deixamos os outros repartirem e finalmente ficaram com a melhor parte.

Socorro Gomes ex-deputa federal pelo Pará, constatou em pesquisa que as mineradoras não levam só ferro e manganês, junto vai minérios para produção de energia nuclear, ouro, cobre, prata etc. que é negociado como rejeito. São riquezas extraídas do solo paraense que não foram repartidas para todos que vivem no Pará. Com a nova ofensiva de divisão das riquezas não querem levá-las aos montes, querem em gigantescos blocos para ver se não fica nada ao Pará.

O meu discurso parece bairrista. Não é! O Amapá ao se separar do estado do Pará, baseado no discurso encapado de solução dos problemas econômicos para a população daquela região, teve os seus minérios exauridos em 40 anos pela Icomi, chegando a extrair um milhão de toneladas de manganês da Serra do Navio (LÚCIO FLÁVIO,2004) e a maioria da população ficou excluída da distribuição das riquezas. Os separatistas do sulparaense têm razão em querer dividir alegando abandono? Não, definitivamente, não é só a população do sul e sudeste do Pará que está abandonada. Belém e Ananindeua estão entre as dez cidades do Brasil que não tem saneamento básico adequado. Entre as dez piores não aparece nem uma cidade da região do Tapajós ou do sul e sudeste do Pará. Isso se explica por que as cidades são bem assistidas pelos governantes? Não, a pesquisa só alcança as cidades em uma determinada faixa populacional. Isso se explica se verificarmos que as cidades com maior número de habitantes não se encontram nas regiões assinaladas acima, mas na região metropolitana de Belém, que crescem assustadoramente, sem que os governantes dediquem atenção às necessidades da população paraense.

A gravidade do discurso separatista não está exatamente na proposta de divisão do Pará, mas nos interesses que graça por trás do discurso. Os separatistas acenam com a possibilidade de desenvolvimento econômico, porém não dizem para quem esse desenvolvimento será benéfico: para as elites econômicas, ou para os setores mais pobres? Induzem a população a pensar que as riquezas minerais será a redenção da população do sul e sudeste paraense. Neste caso não há milagres. Ou a população paraense se une em torno de um projeto que vise além do poder, fundamentalmente, trabalhe em função da construção de um projeto de nação, de estado e de governabilidade que inclua as populações tradicionais, migrantes, quilombolas etc. Ou, vamos continuar a ouvindo e assistindo o bordão: “quem parte reparte, fica com a melhor e maior parte. Quem parte e fica com a pior e a menor parte é burro e besta e não sabe da arte” (domínio popular).

imagem - wordpress.com

2 comentários:

  1. Sou parcial a esse tema da divisão do estado do Pará, na verdade tento não me posicionar. No entanto adimiro discursos verdadeiros e argumentos plausivos. Muito bom texto, fala algo de que o povo não esta vendo, estão cegos pelos propositos das elites...

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  2. Minha opinião é que neste momento não dá para quem é de fato paraense "PAPA CHIBÉ", que são os parenses mais ao norte do estado, e à todos pelos 4 cantos do PA, não dar sua opinião em torno da divisão do estdo ou você vota não para o nosso bem ou vota sim para favorecer interesses escusos.
    É o nosso futuro e do nosso estado que está em jogo, não deixemos que interesses meramente politicos e economicos prevaleçam e que nosso povo venha pagar mais tarde um preço alto a hora é agora.
    Minha avó me ensinou este dito popular prof.

    Parabens pela matéria

    SOCORRO PEREIRA

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