quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Eleições 2018: Como se joga o jogo democrático?


A última pesquisa publicada pelo comando midiático do golpe de 2016 pode nos ajudar a realizar algumas leituras. A grande preocupação dos golpistas, ou do núcleo duro do golpe, é tornar o processo eleitoral um mecanismo que mantenha o sistema político brasileiro instável. A questão é complexa, mas escavando podemos chegar a diversas interpretações, vejamos algumas teses: todos sabemos, pelo menos os mais atentos as informações e ao processo, que a participação do Lula nas eleições desmantelaria, desestabilizaria, os arranjos das elites no poder do Estado para continuarem dando as cartas nos destinos do país, assim, só havia uma forma de tirá-lo do processo, prendê-lo. Isso daria uma aparência de legalidade, colocaria os setores moralistas (ou hipócritas) da sociedade para serem a correia de transmissão da propaganda moralista.
Vamos primeiramente a pesquisa antes de desenvolvermos melhor o raciocínio. A pesquisa do dia 05/09/18, fora a pesquisa polêmica encomendada pela Rede Globo e o Jornal O Estado de São Paulo, portanto considero não ser fidedigna os resultados. Mas ela é importante porque deixa o rabo de fora do núcleo do golpe. Lembremos que a não publicação imediata da pesquisa foi uma ação conjunta Rede Globo e a Justiça, novamente para dar aquele ar de legalidade, para impedir que fosse divulgada a pesquisa com a presença de Lula na planilha. Ora, mas por que o judiciário se prestaria a este serviço sujo? Sabemos que já fez pior. A questão é que o registro no TRE é de conhecimento de todos, tem um prazo para ser publicada, bingo!
A “justiça” seguiu as orientações e determinou que fosse retirado o resultado com Lula. Aonde está a cereja do bolo Na movimentação dos resultados que conduz o processo eleitoral impreterivelmente para o segundo turno, com Lula o risco do povo bater o martelo no primeiro turno é iminente. Por isso vamos ler apenas o segundo turno, justamente porque sabemos que Bolsonaro, apesar ficar em primeiro na pesquisa, não ganha no segundo turno, a última coisa que as elites no poder querem é um lunático dirigindo os seus “negócios”, e a esquerda não quer que se repitam as tragédias brasileiras, com o Regime Militar, e as do mundo, com o nazismo. Voltemos ao foco: nos cenários da pesquisa, montada, para o segundo turno o que é importante é que Bolsonaro perde para Marina e Ciro; empata tecnicamente com Haddad, não precisa ir mais além, o núcleo do golpe desistiu de abanar os seus principais serviçais na política e vão investir numa nova “direita”, ou uma esquerda fanfarrona representa por Marina, haja vista, que o PT socialdemocrata se radicalizou, aprendeu a lição: não se pode confiar na burguesia conservadora brasileira. Ou seja, a próxima pesquisa pode até mostrar a realidade da corrida eleitoral, mas essa pesquisa especifica teve tempo de ser montada como desejam agora que o processo siga, com menos prejuízos aos interesses golpistas. A pergunta que alguns poderia fazer: e o Alckmim, por que não está sendo colocado, se aparece vencendo Bolsonaro no segundo turno? Porque ele não vai para o segundo turno, penso que nem a máquina mais poderosa vai tirá-lo dos 5 a 9%. Mas, temos visto que o núcleo golpista não tem medo de ser visto nu e enlameado de excremento.
Lembrem-se, novamente, não esqueçamos desta pesquisa, ela será lembrada como o momento de flexão do golpe, permitir que os empoados como Marina possam chegar ao governo. Podemos ir mais além, tentando escavar mais fundo. A quem interessa a instabilidade política? Por que esse esforço incomum para deixar Lula encarcerado? Estas são variáveis importantes para tentarmos saber o que vem depois das eleições, ou seja, que pode permitir compreendermos a coerência engendrada.
Lula é o ponto de desequilibrou no processo, isto é importante que esteja claro, é um fato inconteste, os operadores do golpe suam muito para pensar e executar manobras jurídicas, ambivalências de interpretação, espetáculo midiático, sombreiam a campanha de Lula, Haddad e Manuela; montam “palanques” para os concorrentes que enfrantam PT, PCdoB; o aparato de execuções mirabolantes não tem “fim” e com pouco sucesso, Lula continua intacto e crescendo, se não for candidato, saíra da cadeia mais forte do que entrou. De certo modo é uma lei “determinística” que diz: quando o povo está convencido que foi enganado, a tendência é ir se somando mais desalentados.
Para o núcleo do Golpe, e os Operadores, estas eleições têm perfil estratégico, é essa a leitura funda que faço da montagem da pesquisa, para manter a política iniciada por Temer é necessário que se tenha um futuro governo fraco, que dependa o máximo de arranjos de alianças para poder ter governabilidade. Um governo forte de esquerda será um duro e estratégico golpe nas elites econômicas. Lula já entraria sendo líder de um governo forte, que se soldou na crueldade do inimigo; inimigo que ofendeu com violência os direitos dos trabalhadores, dos mais pobres e espancou a Constituição Brasileira.
Na falta de Lula a montagem da pesquisa da Rede Globo/Estado de São Paulo, é uma flexão do golpe porque sentiram que não podem ter tudo, e sabem que, se elegerem Bolsonaro, novamente serão responsabilizados por mais um erro histórico em seus currículos. As elites correrão este risco porque vale a máxima para eles, que parece ser cômica: “vão-se os dedos e ficam os anéis”.
As eleições são parte do jogo “democrático”, mas só é democrático quando se joga o jogo. Em um jogo coletivo todos seguem regras, entretanto a priori não se tem como estabelecer compromissos éticos para que o jogo seja jogado, todos participantes devem desconfiar do adversário e confiar nas regras. No jogo deve existir um ou mais mediadores para ajuizar, assim, quando alguma anormalidade passar do crivo dos participantes um ou mais juízes corrigem o ato falho, para não deixar que o resultado da peleja seja maculado. Assim funciona um Estado Democrática estável; assim não funciona o Estado brasileiro. Os membros do Executivo, Legislativo e Judiciário, que deveriam ser os mediadores do processo democrático, não o são, estão comprometidos com as elites econômicas, sujam o jogo, manobram as jogadas a favorecer um lado dos jogadores.
Lula como pessoa está sendo afetado pelo jogo sujo, porém, não se enganem, ele é apenas o estrategista de um lado do jogo, representa certos anseios de parcela significativa da sociedade, pelas pesquisas de 37 a 45% da população. Mas, diriam alguns, ele está preso, “sujou” o jogo; não, para “sujar” o jogo o que pesa é a manobra que passa por cima das regras que desobedecem às leis que regem a ação dos indivíduos. Lula por ser um grande estrategista teria que ser anulado, no jogo sujo, o problema foi que os golpistas mexeram as peças erradas, prenderam-no sem provas concreta, como exige a regra do jogo. Ao ser percebida a manobra acenderam a vontade de parte significativa dos brasileiros. De todo modo, os golpistas e seus ideólogos sabiam que a liderança não está com a esquerda, está com Lula. Preso não poderia ter contado com o povo, Lula elegeu um emissário; os golpistas diminuíram o contato do emissário para ele não emitir as mensagens; a esquerda que está com Lula manteve a candidatura de Lula. Então por que não mudar o líder? Porque esta esquerda percebeu que o jogo era isolar Lula, afasta-lo do povo para os votos se diluírem nas candidaturas. Alguns candidatos já estavam de “boca escancarada” esperando cair em seus “colos” a possiblidade de “engolirem” a preferência do eleitorado desgarrado.
O jogo não foi jogado, o adversário impôs um jogo sujo, muitos caminhos poderiam abrir e outros fechavam o jogo, mas apenas uma movimentação permitiria encurralar o adversário, que já estava com muitas vantagens. Da cadeia, que lhe foi imposta injustamente, Lula se agigantou, cerrou fileira aos homens e mulheres que foram encarcerados como Mandela e muitos outros; reuniu seus emissários, Haddad e Manuela, fizeram uma das melhores jogadas, aquela que não passava pela mente de quase nem um de nós e jogaram o jogo. Em desvantagens, lançam três candidaturas. Para que isso, deveria logo largar a liderança, passar o bastão para outro? Muito fácil, não seria a melhor jogada, isso provocaria uma debandada de parte do eleitorado, é preciso manter-se unidos na dificuldade e impedir que fossemos derrotados antes que a corrida eleitoral chegasse na largada. O impacto da decisão fora acima do esperado, colocou os adversários na parede e permitiu ganhar tempo, além do que os eleitores transformaram a decisão em uma espetacular peça de propaganda nas redes sociais. De outro lado as grandes emissoras fecham as portas, todas as manifestações da campanha de Haddad e Manuela estão vedadas.
A luta jurídica são lances de ficar com pena aos adversários, rasgam e Constituição, as leis penais; o argumento é que Lula foi condenado na 2ª instancia, porém, centenas de candidatos condenados na 2ª e última instância estão livres e fazendo campanha, é o jogo sujo que não comporta em uma democracia estável.
Os adversários se assustaram com o lance jurídico que os emparedou, depois que os golpistas do núcleo do judiciário (STF) foram notificados pela ONU, deveriam ceder o direito a Lula ser candidato e participar da campanha, jogo jogado. A resposta foi atarantada, alguns juízes transformaram os seus trabalhos publicados em livros mortos, não valem mais para ministrarem aulas e orientarem alunos de direito; outros, como o Ministro Fachin, toda vez que toma uma decisão, jogando sujo, faz uma cara de que tem alguém da família em cativeiro.
O jogo jogado, o jogo democrático, exige astúcia e não força; inteligência e não manobras sujas; confronto de ideias e não ausência destas. O que a mídia golpista, com a Globo ao “timão”, tem a oferecer no jogo democrático? Não se exige que não tenham lado; acho um absurdo querer que milionários da comunicação que pagam altos salários, para alguns poucos, a seus empregados, estejam ao lado dos despossuídos, da esquerda, dos liberais progressistas, dos trabalhadores homens e mulheres. Porém, deveriam ter como perspectiva fortalecer a democracia e os processos democráticos, ao contrário, estão ajudando a construir uma “democracia” cambaleante, dependente, enfraquecida.
A Globo, em uma jogada de desespero, segura a pesquisa paga por ela; tem a cobertura do judiciário. É só nos atentarmos para as datas: da pesquisa entregue ao cliente, de medida do judiciário, impedindo a sua publicação e do anuncio da Rede Globo, precisaram de tempo para maquiar a pesquisa, que sem a presença de Lula, teriam que redimensionar os votos dado a Lula. Como fazer isso em uma pesquisa estatística com medidas em porcentagem direcionadas a cada candidato?
Oportunidade dada, oportunidade transformada em jogada suja. Mas a oportunidade faz você se abaixar mais do que o necessário para apanhá-la, então, o rabo aparece. A estratégia da Central do Golpe jogou. Porém, mostrou que a grande estratégia é o isolamento do Lula, a sua desmoralização pública. Este jogo sujo deu certo por algum tempo, mas me parece que a maioria do povo percebeu mais rápido do que os estrategistas políticos, mantiveram Lula em primeiro lugar em todas as pesquisas, não deu certo o isolamento, A Central do Golpe jogou e mostrou que não quer que as eleições de 2018 seja resolvida no primeiro turno. É uma jogada para ganhar tempo. Mas não é uma única jogada, tem que continuar a manter Lula fora do páreo; inflar Bolsonaro de forma controlada, esperando que Alckmin cresça, se não der vão de Marina ou Ciro.
Todos nós podemos acrescentar várias jogadas neste jogo que e jogado de um lado, mas do outro são lances decepcionantes, lamentáveis que denigrem a imagem do Brasil pelo mundo e deixam a todos no meio de incertezas. O jogo democrático está em sérios riscos.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Conceição do Araguaia-PA, uma município perdido em “nós” da política.


O município de Conceição do Araguaia foi considerado como um potencial polo voltada para a educação. E por isso, a Universidade do Estado do Pará construiu o seu primeiro núcleo de interiorização. Grande potencial turístico, indústria de leite e de couro não verticalizada, agricultura familiar e de grandes fazendas, muitas delas com produção em pequena escala, comércio instável. Em 1982, o município foi desmembrado, dando origem a outros municípios. Desmembramento mal estudado e planejado levou Conceição do Araguaia a perde prestigio político, por ironia, justamente pelas mãos do governador Jader Barbalho, até hoje considerado por muitos como a grande liderança política local.

Quando fui pela primeira vez à Conceição do Araguaia, em 1986, lá ainda estavam concentradas todas as sedes dos órgão do estado e federal que, mais tarde, foram transferidas a sua grande maioria para o município de Redenção. Naquele tempo viajava-se de Marabá à Conceição com as estradas ladeadas de florestas ainda pouco intocadas nas margens, mas consumida pelo latifúndio no meio da mata. Conceição do Araguaia foi o foco de grilagem e de resistência, há muito tempo imperava a grilagem dos latifundiários, a violência contra trabalhadores, policiais que se corrompiam pelos latifundiários para agredir trabalhadores rurais, porém existia um elevado movimento social que lutava por Reforma Agrária e dava sempre respostas a altura das necessidades de avançar as conquistas do povo.

Atualmente considero que Conceição do Araguaia, no campo político, vive um “bololô” (emaranhado de “nós”) nas eleições. Isto é o resultado da péssima gestão na prefeitura; alianças entre partidos que respiram interesses diferentes, e com isso sufocam a população que sem alternativa está indo ao sabor da maré sem apresentar resistência aos projetos políticos apresentados.

Vejamos o “bololô”:

1 O atual prefeito de Conceição do Araguaia, Walter Peixoto, já pode ser considerado o pior prefeito que já se viu administrar um município. Um político sem carisma, sem trato público com as lideranças, que não conseguiu nem junta o seu próprio partido. Está deixando a administração em “terra arrasada”.

2 A UEPA e IFPA tornaram-se trampolins eleitorais, mais descaradamente tem sido a forma como as lideranças do município tratam a UEPA. Nas últimas eleições para a coordenação da UEPA os principais partidos que vivem se confrontando se uniram: PSDB, PMDB, PDT, PSC (do Vice-governador), PT, algumas igrejas evangélicas (a maioria com candidatos) e o setor mais conservador da igreja católica, para apoiar a candidatura do atual coordenador Wanderson Carvalho. Todos de olho nas eleições hora em curso. O vice-governador não mandou emissário, ele mesmo tomou a frente do apoio e prometeu “mundos e fundos”, até agora não se viu a cor do que ele chamou “de um resto do orçamento do estado de 100 mil”. Quase um ano de gestão na UEPA o que já vimos foi o que não foi feito: no lançamento do livro de uma professora da universidade, o auditório recém inaugurado lotado, todos suando à “bicas” sem que nem um ar condicionado prestasse. Do auditório à pintura do Campus ainda é resultado da conquista da gestão anterior da professora Lucilei.

3 No processo eleitoral, como o esperado, cada partido buscou alianças as mais estapafúrdias. O PMDB de Jair Martins fez uma aliança com quase uma dezena de partidos, caso eleito, já podemos premeditar certa ingovernabilidade. Juntou de A à Z. Até o PCdoB se curvou a possibilidade de fazer parte de mais um governo, sem que para isso tenha se tornado pelo menos uma alternativa futura à esquerda. O PCdoB não mediu as consequências de ter que conviver com um candidato que responde a vários processo, o ultimo deles: suposto desvio de mais de 4 milhões da saúde, já denunciado pelo Ministério Público Federal de Tocantins (fonte, TJF-TO). O PT, com o desgaste sofrido ficou sem alternativa e está como coadjuvante na chapa do PPS, do governo Jatene, com poucas possibilidades de eleição.

4 Os movimentos sociais e suas lideranças que poderiam ser uma luz para esse “bololô” foram ofuscados por cargos na administração; pela inércia dos setores progressistas da igreja católica, que outrora deram contribuições inestimável para a luta do povo. A população, na política eleitoral, sem alternativa de mérito, está prestes a eleger um candidato que só não é ficha suja porque a justiça é lenta e partidária. O PSDB do governador Jatene, está escondido por trás das coligações, sem lideranças e talvez com vergonha da péssima gestão do governador. O PDT, que já não é mais do Brizola, e sim do latifundiário Giovanni Queiroz, também não apresentou candidatura ao cargo majoritário, porque a única luz que acende no PDT é a do próprio Giovanni.

E a bela conceição do Araguaia vai padecendo, tendo que esperar para progredir, esperando que o futuro ou uma nova safra de lideranças surjam para ajudar a desatar os “nós”. Poderíamos esperar que o setor da educação nos possibilitasse isso, mas, por enquanto, o que depender da UEPA isso vai demorar um pouco. Muitos jovens universitário se comprometeram com o projeto político dos partidos que tomaram de “assalto” a universidade, muitos deles estão nas ruas fazendo campanha, ajudando a aumentar os “nós” (Situação já divulgada pelo professor Hugo Brito por meio do seu Facebook).

Entretanto não temos o que temer, o que está no obscurantismo será iluminado por novas ideias e ideais, confio na mudança.

Miguel Pereira

Prof. da UEPA  

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

PROLOGO DOS ECOS ROUCOS DOS MOVIMENTOS DE JUNHO DE 2013

Ao invés do debate, o ódio; ao invés do comprometimento com o povo, a defesa da elite dominante. Sangra nesse processo eleitoral todo conservadorismo, que parte da juventude brasileira se atolou por ter se inclinado a apoiar o que de mais atrasado o brasil produziu na esfera política: o apoliticismo e apartidarismo transvestido de novo. Mas como isso surgiu, e diga-se de passagem, como surge em vários momentos das Histórias nacionais de alguns países.
Pode-se agora afirmar que foram os últimos movimentos, de rua (chamados de movimento de junho de 2013) onde em suas manifestações queimavam bandeira de partidos políticos, militantes de esquerda eram enxotados, simbolizando todo desprezo que a população nutria contra a corrupção desnudada no governo Lula e depois Dilma. Muitos leituristas políticos laureavam aquela atitude, afirmam que era um novo movimento que não tinham bandeiras definidas, não tinham "lideranças", a marca era o descompromisso com o futuro do brasil; descompromisso com ideias que afirmam algum contorno ideológico definido. Construíram ai nestes movimentos a marca ceticista que incluíam todos os políticos no mesmo saco. Na verdade era uma nova direita sendo gestada com perfil racista, preconceituoso que levou milhares de jovens bem intencionados mas que não sabiam de modo claro quais as consequências daqueles atos “cívicos”.
Clareando a memória, penso que esses movimentos começaram a ser pensandos quando uma certa atriz da Globo em uma determinada novela saia para a rua gritando batendo panela pedindo para os vizinhos reagirem contra os governantes. Era a imitação do episódio dos panelaços na Argentina dirigidos pela classe média desconfortável com a esquerdização do governo argentino.

Nasciam então no Brasil os movimentos dos indignados, sem bandeiras, sem “ideologia”. Os reais motivos eram escondidos por trás de mascaras, que na minha opinião, membros do movimento de junho de 2013 propositalmente não queriam se identificar porque eram figuras conhecidas, assim, ao serem identificados poderia mostrar os reais propósitos daquele movimento, que alguns teimam supostamente ter surgido com os movimentos das catracas em São Paulo. Na minha opinião foram usados. Por isso não é à toa que São Paulo liderou a eleição de expoentes da política facista, homofóbica e racista. Bem, mas isso aqui é só uma reflexão.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Memórias: Cheiro de Pará

Walber Torres recebeu uma brilhante carta da Jornalista Rendeiro residente em Ribeirão Preto - SP, me enviou eu divido com todos aqueles que acompanham o blog  Interferência social. "A
Jornalista, sentindo esse cheiro de PARÁ fervendo, resolveu escrever um pouco de sua história, de nossa história e de tantos papa-chibé que estão espalhados por esse mundão. Vejam o que ela nos canta".


PARA OS QUE QUEREM DIVIDIR MEU PARÁ

(Agradecimento ao Raimundo Mário Sobral, que no seu dicionário Papachibé me ajudou a recordar muitas expressões e ao Mauro Magalhães que leu e incrementou mais o texto).

Sou da terra onde a Lobrás se chamava 4 e 4 e se ia lá pra comprar fechoeclair e trocar aquele que escangalhou na velha calça que fica no redengue. No rumo da Presidente Vargas uma parada para... a merenda no Jangadeiro:garapa e pastel eram os meus preferidos, mesmo que eu me sentisse depois empanturrada, com vontade de bardear dentro do ônibus Aero Clube. Às vezes o piriri era inevitável. Mal dava tempo de chegar em casa.
Ahh a minha casa... Morei anos e anos na Baixa da Conselheiro e um dos meus divertimentos preferidos era pegar água na cacimba da Gentil. Sempre fui meio alesada e deixava boa parte da água pelo caminho. O balde chegava quase sem nada, motivo pra ouvir da minha avó: não te brigo nem te falo, só te olho.
Na minha terra não se empina pipa, mas papagaio, curica e cangula, sempre olhando pra ver se eles não estão no leso e nunca deixando a linha emboletar. Depois do laço, a comemoração, maior ainda se cortou e aparou. Se perdeu a frase inevitável: laufoiele. Era um segurando o brinquedo artesanal feito de qualquer papel, enquanto o outro gritava de longe: larga ! E o empinador sai correndo. Não gostava dessa função, sempre me abostava e os meninos eram implacáveis: cheira lambão, a velha caiu no chão e depois ainda me arremedavam...
Peteca ou fura-fura eram mais compatíveis com a minha leseira. Um triângulo desenhado no chão e dentro dele as pequenas bolinhas de vidro. Tirou de lá, ganhou a que saiu ou quem conseguia o tel. No fura-fura era essencial amolar bem a ponta do arame e sair jogando, emendando um ponto a outro sem nunca deixar que o adversário nos cercasse.
Lá na minha terra peixe não fede, tem pitiú e quem não toma banho direito tem piché. Gostamos de ser chamados de papa-chibé, aquele que adora uma farinha e que faz miséria com ela. Manga com farinha, doce de cupuaçu com farinha, sopa com farinha, macarrão com farinha. Um caribé bem quente, ralinho serve pra dar sustança ao doente e um chibé é excelente com peixe fritinho. Farinha só é ruim quando dizem: ihhh ta mais aparpada que farinha de feira !
O pirão do açaí é quase um ritual... Pode-se usar farinha d’água baguda ou mesmo a fina amarela, mas nada melhor que uma farinha de tapioca bem torradinha. Depois de tomar uma cuia bem cheia (meio litro em diante), daquele um, tipo papa é inevitável deixar a mesa todo breado e empanturrado. A barriga por acolá de tão cheia. Hora de ir para rede reparadora. Uma hora de momó é suficiente pra curar aquele despombalecimento.
A gastronomia na minha terra é tudo de bom. Se não tem pão comemos tapioquinha com manteiga ou pupunha no café, quem sabe até um bolo de milho recém-saído do forno com uma manteiga por cima da fatia, derretendo. O pão pequeno é careca e o curau, canjica e a canjica, mingau de milho. Tem gente que não gosta e ficava encarnando que esses pratos não são típicos. Preferem uma unha com bem pimenta ou um beijo de moça bem torradinho.
Na minha infância o doce que mais consumíamos, em frente ao Grupo era o quebra-queixo. De amendoim ou de gergelim. O risco era ele cair na panela que sempre havia na boca da molecada. A dor era insuportável! Muitas vezes voltei pra casa correndo, debaixo de chuva pra colocar álcool no dente, adormecer até a panela parar de doer. – Vai na chuva mesmo? – Claro não sou beiju !
Nossa Senhora de Nazaré, pela intimidade que temos com Ela, pode ser chamada carinhosamente de Naza e a erisipela de izipla. Cabelos grossos e cortados curtos viram espeta caju e quem pede muito é pirangueiro, filho de pipira. É proibido malinar, andar fedorento, ser um pirento inconveniente, desses que arrancam o cascão.
Embora politicamente incorreto, adoro lembrar o “carro da phebo” passando e os lixeiros invocados tendo que ouvir esses gracejos.
Quantas vezes ouvi da minha avó, da minha mãe: - So te digo vai ! ou de uma amiga pedindo para que a gente se demorasse mais um pouco: - Espere o vinho de cupu. E o calendário paraense que além do ontem tem o dontonte e o tresontonte ?
Nos orgulhamos de falar tu e conjugá-lo corretamente, mas quem nunca ouviu essa frase? – Passasse por mim me olhasse, fizesse que nem me visse, nem falasse.
Esse é o meu Pará que querem dividir. Retalhar não só o território, mas as falas, as tradições, a cultura, a sua História. Minha terra correndo o risco de não ser esse colo materno único, ímpar, que acolhe, que abriga da chuva, que nos enche de orgulho de ser não apenas Belém, mas Alter do Chão, Bragança, Soure, Altamira, Conceição do Araguaia, Ourém, Alenquer, Curucá ...
Talvez os que acreditam que a divisão é o melhor tenham batido na mãe, comido manga com febre e não entendido a metade do que está escrito aqui ! (RUTH RENDEIRO)

sábado, 12 de novembro de 2011

O TRABALHO E SUAS METAMORFOSES

Amigo de longas datas, KLEINER nos presenteia com inteligente artigo sobre a metamoforse do trabalho. Conceito construido por Mezàros, recoloca o marxismo em foco, como teoria e como prática social.

           Desde que o homem surgiu enquanto tal, o trabalho passou a fazer parte do seu cotidiano como fator essencial para organização da sociedade e na produção dos bens e serviços necessários a sua existência. O trabalho é uma condição específica do homem e está associado a certo nível de desenvolvimento dos instrumentos de trabalho (grau de aperfeiçoamento das forças produtivas) e da divisão da atividade produtiva entre os diversos membros de um agrupamento social. Assim, o trabalho assumiu formas particulares nos diversos modos de produção que se consolidaram ao longo da história humana Nas  comunidades primitivas tinha caráter solidário, coletivo, ao passo que nas sociedades de classe (escravista,feudal e capitalista) tornou-se alienado, opressor e coercitivo para milhares de seres humanos.

           Na Roma antiga e depois durante o todo o Feudalismo, o trabalho e o trabalhador eram visto como algo menor, longe do ideal de homem a ser perseguido naquela época. Com a implosão do antigo regime e com advento do capitalismo a visão de mundo individualista subjacente ao liberalismo clássico, tornou-se a ideologia dominante desse novo sistema econômico, que estruturou seu credo político e psicológico em quatro pressupostos básicos da natureza humana. Os ideólogos do liberalismo sustentavam que todo homem é egoísta, frio, calculista e essencialmente atomista. Figura como Hobbes, com sua tese sobre o egoísmo humano e posteriormente Jeremy Bentham com seu hedonismo psicológico, afirmando que “todas as ações são motivadas pelo desejo de obter o prazer e evitar a dor “e ainda, pensadores eminentes desse período como John Locke, Bernard Mandeville, David Hartley, Abraham Tucker e Adam Smith, atribuíram ao intelecto humano um papel extremamente significativo.

          Mesmo que todas as motivações tenham origem na dor, as decisões que os indivíduos tomam quanto a que prazeres ou dores buscar ou evitar estribam-se numa avaliação fria e racional das situações. Para eles, é a razão quem dita à necessidade de avaliar todas as alternativas que determinada situação coloca para que a escolha recaia sobre a quem oferece o Máximo de prazer e o mínimo de dor. Bem, aí está à vertente calculista e intelectual da teoria psicológica do liberalismo clássico que confere ênfase a avaliação racional dos prazeres e dores e, em contrapartida, o menosprezo pelo capricho, o instinto, o hábito o costume e as convenções.

          A visão de que os indivíduos são essencialmente inertes resulta da noção de que a busca do prazer e a rejeição a dor constituem os únicos estímulos do homem. Ou seja, se os homens não encontrassem atividades que lhes proporcionassem prazeres ou dor ficariam reduzidos à inércia, a imobilidade e a indolência. A conseqüência prática dessa doutrina foi à crença largamente difundida na época, de que os trabalhadores eram incuravelmente preguiçosos. E que somente uma grande recompensa, ou o pavor da fome e de outras privações os obrigaria trabalhar.

        Essa visão preconceituosa sempre norteou o pensamento das elites nas sociedades de classe, mesmo com a evolução dos modos de produção e das transformações ocorridas no mundo do trabalho, do Escravagismo ao capitalismo com sua ideologia liberal, a classe trabalhadora, “ou classe que vive do trabalho”, ainda continua distante do lugar que merecidamente lhe cabe nesta sociedade. Embora, tenha conquistado a duras penas uma certa qualidade de vida nos países capitalistas centrais, uma quantidades enormes de trabalhadores na periferia do sistema sobrevivem à margem de seus direitos básicos, sem escola, sem saúde, sem alimentação adequada, sem cidadania sem  futuro.

       Com o advento da globalização a situação se complicou ainda mais, pois o poder de barganha dos trabalhadores diminuiu consideravelmente com o enfraquecimento dos sindicatos, que agora lutam para manter o emprego e não mais para transformar a sociedade. A ameaça constante do desemprego gerado pela automação e pela reorganização da produção em escala planetária abalou de forma colossal o cotidiano dos trabalhadores em todo mundo. Mesmo nos países centrais,aceita-se a redução de salário com vista à manutenção do emprego. Em alguns países europeus essa tática não funcionou, pois trouxe prejuízos para a qualidade dos produtos que foram considerados inferiores aqueles produzidos por trabalhadores que recebiam salários integrais.

      E como se não bastasse, nos países em que se adotou o modelo de organização da produção e do trabalho conhecido como Toyotismo, a situação é muito pior. Aqui o trabalho alcança ritmos de pressão e desgaste físico sem precedente em toda a história do trabalho assalariado. Sabe-se que a exploração máxima do trabalho é marca registrada do capitalismo no aprofundamento de suas relações fundamentais, porém a espoliação do trabalhador no sistema japonês não tem comparação na historia. As características principais desse sistema são: “autonomação” gerenciamento JIT, trabalho em equipe, management by stress, flexibilidade da força de trabalho, subcontratação  e gerenciamento participativo.

       “Autonomação” é uma palavra que combina os conceitos de autônomo e automação. Não significa apenas, funcionamento automático, mas parada em caso de defeitos. Essa técnica não foi introduzida na forma com se usava na industria têxtil, na qual as máquinas tinham o controle autônomo dos defeitos, o qual garante o funcionamento e parada automática no caso de defeito na operação de fabricação e permite a máquina funcionar só sem interrupção e sem supervisores. O JIT ou O just- in- time é uma forma de gerenciar  a produção bem diferente da utilizada pelos princípios fordistas,os quais se sustentam num ordenamento que se inicia com a produção em massa, deixando para pensar depois na distribuição na venda . Com o JIT, a produção é acionada pela demanda que,  (venda) que, através dos comandos sucessivos, disponibiliza componentes no lugar, hora e quantidade necessários à fabricação das unidades desejadas, vendidas antecipadamente. Isso livra a empresa da preocupação de trabalhar com estoque, fazendo com que haja uma perfeita sintonia entre a estratégia de produção e a estratégia de mercado. Os efeitos dessa racionalização sobre o trabalho são brutais, pois permitem o aproveitamento completo da jornada, diminuindo todos os mínimos espaços de tempo e movimento que possivelmente a linha fordistas tenha deixado escapar.

     Juntando todas essas características, temos aí a expressão: management by stress  que significa direção da produção por estresse. Creio que somente esta expressão sintetiza bem

o que é viver sob esta forma de organização da produção para milhões de trabalhadores. E assim, diante de condições tão adversas sem nenhuma alternativa concreta ao modo de produção vigente, chegamos a mais um 1° de maio, dia em que sobram motivos para refletir e faltam razões para comemorar. Contudo, se pensarmos que todos os modelos de organização das sociedades foram construções sociais, ainda podemos ter esperança, pois tudo que foi socialmente construído, também pode ser desconstruído e isto a história já provou ser verdade.            

             

                                                     KLEINER JOSÉ FRUTUOSO MICHILES.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Governo Jatene: carrasco da educação paraense

A intransigência do governo Jatene obriga os trabalhadores da educação do estado do Pará a mantere-se em greve. Não há negociação e a Secretaria de Educação de modo grotesco ameaça professores que não retomarem as salas de aulas. Penso que o governo quer testar a orgaização dos professores, se for um teste Jatene será derrotado, pois a luta dos professores é justa. Leiam na íntegra  o posicionamento do sindicato frente a enrolação do governo Játeve.



Conciliação: Governo faz proposta vergonhosa aos trabalhadores

A vergonhosa proposta do Governo Jatene apresentada em mesa de conciliação chamada pelo Juiz Elder Lisboa prevê o pagamento do piso salarial em 24 meses. A direção do sindicato imediatamente rechaçou tal proposta,pois demonstra o desrespeito com a educação e os trabalhadores em greve contabilizada em 15 dias letivos. Esta foi a proposta mais vergonhosa e indecente retrocedendo entre todas apresentadas até hoje pelo Governo Jatene, com aval dos super-secretários Nilson Pinto e Alice Viana.

Quanto ao desconto dos dias parados o juiz declarou que julgou a abusividade da greve e não a sua ilegalidade, e afirmou que caso o Estado desconte os dias parados irá sentenciar a devolução do dinheiro descontado ilegalmente. É importante ressaltar que faz um discurso e pratica outro, pois sabemos que longe da mesa de negociação, o governo pratica através de seus diretores e gestores o assédio moral, ameaçando o corte do ponto e na frente na justiça alega outra prática.

Em nossa assembleia geral chamada para o dia 21 de outubro [sexta-feira], às 09 horas da manhã, na Praça do Operário serão apresentados os informes da audiência de forma esmiuçada para a categoria. “Sabemos que a categoria não concordará com esta postura ridícula do Governo Jatene, por isto vamos dialogar com a categoria e a sociedade para intensificar ações que demonstra que o Governo de Simão Jatene de fato é o verdadeiro intransigente nessa história”, afirma Williams Silva – Coordenador Geral do Sindicato

Todas e todos à assembleia geral na Pça do Operário – São Brás.
Intensificar a mobilização para termos uma grandiosa assembleia.

Avançar sempre, recuar jamais!

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PAUTA DE REIVINDICAÇÕES DO SINDICATO



1 – PSPN: A Lei nº. 11738/2008 que regulamenta o Piso Salarial Profissional Nacional, legitimada pelo acórdão publicado pelo STF, em 24/08/2011. O governo do estado vem afirmando que não paga integralmente o piso nacional em função da não previsão orçamentária e que aguarda a complementação do MEC para que isso ocorra, nós por outro lado achamos que se há a garantia do MEC é possível que os deputados utilizem de suas atribuições e votem em caráter de urgência uma emenda parlamentar que garanta um remanejamento de verbas que possibilite o pagamento do piso.

2 – SOME: O Sistema de Organização Modular de Ensino, que atende o interior do Estado ainda não está regulamentado por lei. No PCCR ficou definido que seria feito por lei complementar. O governo do Estado afirmou que colocaria a proposta em caráter de urgência na ALEPA, mas até o momento não o fez, por isso estamos apresentando nossa proposta para imediata apreciação e votação.

3 – Especialistas em Educação: no PCCR aprovado ano passado, não foi incluída a redação acordada com os deputados e governo na época, que se refere aos pedagogos e que tem a ver com o artigo 4º da Lei nº 7047. O governo ficou de apresentar em caráter de urgência a mudança, mas até agora não o fez, levando-nos a não acreditar nas palavras do próprio.

4 - PCCR Unificado: Infelizmente nosso PCCR versa apenas sobre o magistério deixando de fora milhares de servidores da educação, todavia ficou determinado na lei que em 2011 se faria a unificação por meio de lei complementar, o que não aconteceu. Pensamos que é fundamental abrir imediatamente a discussão da inclusão, levando em consideração todos os servidores, definindo um calendário para que isso ocorra.

5 – Hora Atividade e Jornada de Trabalho: propomos a discussão imediata sobre a reforma do PCCR no que trata da implementação da hora atividade, até o momento não efetivada pelo governo do Estado. De acordo com o plano, o percentual da jornada para exercício fora de sala de aula é de 20%, em contra-partida a Lei 11.738/2008 determina que 1/3 da jornada de trabalho seja cumprida em atividades pedagógicas fora de sala de aula, portanto é urgente a aplicabilidade da lei.

6 – Progressão Horizontal: foi aprovada a progressão por tempo de serviço de 0,5% no atual PCCR, valor irrisório e que não valoriza o servidor, neste sentido propomos a revisão imediata deste percentual pelo percentual estipulado no Estatuto do Magistério de 3,5%.

7 – Verbas para a Educação: considerando o prazo para aprovação da LDO e do PPA, 2012, queremos pautar o debate acerca da necessidade imperiosa de alocação de mais verbas para a educação pública em função dos resultados obtidos nas avaliações em nível nacional e por conta das condições precárias das escolas, particularmente, pelo interior do estado.

8 – Abono dos dias parados na greve: o SINTEPP, respeitando seu compromisso histórico em defesa de uma educação pública de qualidade, assume o compromisso de garantir a reposição dos dias parados em função da greve, mas isto está condicionado ao não desconto dos dias parados, em função da greve. Ademais, o sindicato cobra do governo sua co-responsabilidade com o cumprimento do calendário letivo e a ameaça, se realmente for levada à cabo, de descontar os dias parados, não ajuda, ao contrário empurra o movimento para uma situação difícil.

9 – Gestão Democrática: este é um tema caríssimo para os (as) trabalhadores (as) da educação. Na verdade, esta questão está no mesmo nível de prioridades da valorização profissional e do financiamento da educação. O fortalecimento dos Conselhos Escolares, o incentivo às formas de participação e controle social, por parte da comunidade escolar e, particularmente, a eleição direta para diretor (as), são questões sem as quais não construiremos uma educação pública efetivamente de qualidade, rompendo definitivamente com o clientelismo, com o assédio e com a privatização do serviço público.

10 – Base de Cálculos da Remuneração: Na pressa de implantar o PCCR, em função da possibilidade de concorrer à complementação de recursos da União, para o pagamento do piso salarial, o governo cometeu erros. Vários trabalhadores (as) tiveram, contraditoriamente, redução salarial em função da mudança da base de cálculo, sem que isto tenha sido negociado, sequer informado em mesa de negociação. Portanto, além da surpresa desagradável para muitos, causou estranheza a medida do governo. Neste sentido, reivindicamos a base de cálculo que historicamente foi utilizada pelo estado, inclusive por este governo na sua primeira edição e até o mês de agosto deste ano.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Quem parte, reparte.... A divisão o Pará e a “sabedoria” das elites econômicas do sul e suldeste paraense. - (primeira parte) Pelo Editor.

Quando eu era criança os membros de minha família faziam as refeições juntos. No café da manhã, na hora de comprar os pães, havia sempre uma discussão entre os meninos maiores que brigavam para comprar e servir os pães, eu não entendia muito bem o porquê. Eu achava bom não ter que ir mercearia. Já crescido, 11 ou 12 anos de idade, comecei a entender por que se brigava para comprar os pães, pois passei a fazer parte da briga. Quem comprava os pães repartia-o e ficava com a maior e a melhor parte, era um direito adquirido por ter se apresentado para comprá-los.

Minha avó, uma mulher de grande sabedoria, ao ver a briga pela maior parte do pão recitava um dito popular que expressa de forma esclarecedora á luta contra e a favor da divisão do estado do Pará. Recitava a minha avó: “quem parte reparte, fica com a melhor e maior parte. Quem parte e fica com a pior e a menor parte é burro e besta e não sabe da arte” (domínio popular).

A cobiça pelas riquezas do Pará (a melhor parte) historicamente sempre esteve na mira dos grandes projetos estrangeiros, dos empresários nacionais, do latifúndio improdutivo, madeireiros e de governantes que priorizam projeto de poder desvinculado de um projeto de nação e de governabilidade.

Quando escuto falar em divisão do estado do Pará, penso que se repete novamente o único interesse em rapinar as riquezas, e se refletirmos melhor, o Pará há muito tempo vem sendo dividido aos poucos. Se tivéssemos condições de medir teríamos um monte de Pará espalhado pelo mundo afora. Quanto será que existe de madeira legal e ilegal em outros países e outros estados em forma de moveis etc. Quanto de minérios já se tirou, deixando imensas crateras, dá para fazer um país só de ferro e manganês, outro de bauxita e ouro e mais outro de caulim e cobre. Isso porque não foi à população paraense que repartiu, deixamos os outros repartirem e finalmente ficaram com a melhor parte.

Socorro Gomes ex-deputa federal pelo Pará, constatou em pesquisa que as mineradoras não levam só ferro e manganês, junto vai minérios para produção de energia nuclear, ouro, cobre, prata etc. que é negociado como rejeito. São riquezas extraídas do solo paraense que não foram repartidas para todos que vivem no Pará. Com a nova ofensiva de divisão das riquezas não querem levá-las aos montes, querem em gigantescos blocos para ver se não fica nada ao Pará.

O meu discurso parece bairrista. Não é! O Amapá ao se separar do estado do Pará, baseado no discurso encapado de solução dos problemas econômicos para a população daquela região, teve os seus minérios exauridos em 40 anos pela Icomi, chegando a extrair um milhão de toneladas de manganês da Serra do Navio (LÚCIO FLÁVIO,2004) e a maioria da população ficou excluída da distribuição das riquezas. Os separatistas do sulparaense têm razão em querer dividir alegando abandono? Não, definitivamente, não é só a população do sul e sudeste do Pará que está abandonada. Belém e Ananindeua estão entre as dez cidades do Brasil que não tem saneamento básico adequado. Entre as dez piores não aparece nem uma cidade da região do Tapajós ou do sul e sudeste do Pará. Isso se explica por que as cidades são bem assistidas pelos governantes? Não, a pesquisa só alcança as cidades em uma determinada faixa populacional. Isso se explica se verificarmos que as cidades com maior número de habitantes não se encontram nas regiões assinaladas acima, mas na região metropolitana de Belém, que crescem assustadoramente, sem que os governantes dediquem atenção às necessidades da população paraense.

A gravidade do discurso separatista não está exatamente na proposta de divisão do Pará, mas nos interesses que graça por trás do discurso. Os separatistas acenam com a possibilidade de desenvolvimento econômico, porém não dizem para quem esse desenvolvimento será benéfico: para as elites econômicas, ou para os setores mais pobres? Induzem a população a pensar que as riquezas minerais será a redenção da população do sul e sudeste paraense. Neste caso não há milagres. Ou a população paraense se une em torno de um projeto que vise além do poder, fundamentalmente, trabalhe em função da construção de um projeto de nação, de estado e de governabilidade que inclua as populações tradicionais, migrantes, quilombolas etc. Ou, vamos continuar a ouvindo e assistindo o bordão: “quem parte reparte, fica com a melhor e maior parte. Quem parte e fica com a pior e a menor parte é burro e besta e não sabe da arte” (domínio popular).

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